Era primavera na Toscana. Fui de bike trabalhar só pra ver o sol e as flores coloridas enquanto o vento batia no meu rosto.

Abri a livraria, fiz chá de camomila, meu preferido!

_ Nossa que estante bagunçada? Calma, calma, eu já vou arrumar a casa de vocês meus amores.

Mexendo nos livros encontrei Jane Eyre das irmãs Brontë, comecei a recitá-la, e ouvi uma voz forte atrás de mim fazendo o mesmo. Me arrepiei, rosto queimando, devagar olhei de rabo de olho, lá estava, um belo rapaz. Me calei, ele terminou o texto e se apresentou. Thomas era o seu nome.

_ Eu sou Julia, quer chá de camomila?

Minhas pernas estavam bambas.

_ Sim, é o meu favorito.

O servi e sentamos próximo as pilhas de livros que eu devia estar arrumando.

_ Seus pais devem estar orgulhosos, sabe de cor as falas do livro.

_ Bem, meus pais morreram de Covid durante o lockdown. Tive de enterrá-los com minhas próprias mãos!

_ Nossa! Sinto muito. Foram dias difíceis.

_ Difíceis, foram horríveis. Eles eram artesãos, ficamos sem comida, sem grana, era muita fome e frio. Eu queimei, móveis, roupas e até meus livros para nos aquecer no inverno.

Lembrei da cena e me emocionei.

_ Eu também perdi meus pais, sei como é!

“Me senti segura, tivemos empatia logo de cara como se já fôssemos íntimos, estranho!”

_ Tive que sobreviver, vendi casas de boneca e tortas de maçã que minha mãe me ensinou a fazer.

_ Você está viva e Deus deve ter um plano pra ti!

_ Ah sim, deve ter. Eu queria ser professora, era o meu sonho, abandonei, pois, nem consegui me formar. Quem sabe um dia.

O tempo passou feito raio e depois de acabar com o chá e biscoitos já era hora de partir.

_ Thomas preciso fechar a loja!

_ Sim, claro. Eu volto amanhã pra te ver, quer dizer pra tomar chá.

Que dia! Que voz! Que rapaz lindo! Corri para casa, arrumei o cabelo e fiz as unhas. Queria ficar bonita.

Eu e Thomas passamos um tempo juntos, ele até me ajudou na loja. Ele era perfeito!

Certo dia fomos surpreendidos por um homem careca, gorducho com um charuto na boca que adentrou aos berros.

_ Thomas onde eu assino? Quero as chaves da minha loja. Vou demolir tudo e construir um centro comercial, vou lucrar muito!

Olhei para Thomas assustada!

_ Não está mais a venda! Encontrei um motivo para mantê-la.

E olhou para mim, que corei e abaixei a cabeça.

_ Estás maluco! Vou falar com seus irmãos.

E se foi...

Fiquei atordoada. Thomas segurou as minhas mãos.

_Julia, minha mãe era a dona da loja, ela morreu e meus irmãos estão vendendo tudo.

_ O que?

_ Na verdade eu vim para fechá-la, já a tinha vendido, mas ao te conhecer, tão dedicada quanto ela, eu mudei de ideia. Julia você é especial, quero cuidar de ti. Eu me apaixonei por você!

Me joguei em seus braços e apertei meu corpo contra o dele, nossos rostos tão perto que dava para sentir a respiração do outro, meu coração a me sufocar, fechei meus olhos. Thomas sorriu e me beijou.